Por Silvia Maiolino (@smaiolino), da Ornando (www.ornando.com.vc)
“Há três anos, pais e mães se encontram quinzenalmente para trocar ideias e experiências sobre as agruras e os prazeres da educação das crianças e adolescentes, em espaço cedido pela escola. Inicialmente, seriam seis encontros. O grupo, porém, não se desfez mais”, conta Claudio Thebas, idealizador da Escola dos Pais, que este ano terá a sexta turma.
Nas reuniões, ele utiliza metodologias colaborativas, processos de autoconhecimento, jogos cooperativos e as 7 Práticas da Pedagogia da Cooperação, vivenciadas durante a pós-graduação em Pedagogia da Cooperação (Turma 1 – São Paulo) e na aplicação dos aprendizados para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), quando pesquisou se as 7 Práticas impactavam na escuta individual e coletiva e pode a perceber a potência do processo. Tudo isso somado à sua experiência como educador, escritor, palhaço e, também, criador do Laboratório de Escuta e Convivência (LEC).
As conversas abordam as inquietações do grupo sobre os mais diversos temas relacionados aos filhos, sempre com o objetivo de encontrar soluções práticas. As diversas fases da infância, angústias e dificuldades da relação, conversas sobre tempos polarizados, o suicídio de adolescentes e as baladas da garotada são alguns dos temas já “conversados” nos encontros.
“É muito bom, se você está preocupado com os seus filhos, encontrar outras pessoas que também podem se preocupar. As conversas trazem uma visão ampla e diferenciada do que é criá-los no mundo de hoje”, acredita Mila Leite, cirurgiã infantil, professora da Unifesp e mãe do Lucas (14) e do João (8). Ela e o marido, Caio, estão na Escola desde a segunda turma, e Mila é responsável pelas postagens no Facebook e registro dos encontros.
Ao todo, mais de 100 pais e mães já passaram pela Escola. “As conexões e os aprendizados têm sido muito intensos. Os participantes criaram um elo profundo entre si, baseado em diálogo e escuta”, afirma Thebas.
Senso de Comunidade – “Bia, minha esposa, e eu somos da primeira turma da Escola dos Pais. Nosso papel não é discutir mensalidade nem o operacional, mas ideias sobre Educação. A troca é muito rica”, afirma Pedro Mindlin, pai da Cecília (5) e da Isabel (10). Engenheiro de profissão e músico de coração, ele é o autor da melodia do samba-enredo. Para ele, a valorização do senso de comunidade é um dos principais resultados do projeto.
“Como diz o provérbio africano, é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, acrescenta Ana Cristina Dunker, diretora da Carandá. Segundo ela, os pais querem uma escola que possa ajudá-los para, assim, não se sentirem sozinhos na Educação das crianças. E, nesse sentido, a Escola dos Pais possibilita que dilemas e inquietações de cada um “possam ser escutados, reconhecidos, legitimados e também diluídos pelo grupo”.
Para Thebas, a diretoria da Carandá foi “muito corajosa” ao abrir e valorizar o espaço para conversa, pois, poderiam surgir assuntos não tão fáceis para a escola lidar. E nunca houve sequer um pedido para que não se tratasse de algum tema. Nas duas primeiras turmas a equipe de coordenação não participou, justamente para preservar a autonomia dos pais. Hoje, todos têm clareza da importância dessa presença e as inquietações que brotam do processo são levadas para a direção, sempre de maneira positiva e colaborativa.
“Pais e direção refletem juntos. É muito emocionante o que acontece, simplesmente pelas pessoas se encontrarem, abrirem seus corações e acolherem uns aos outros”, afirma Thebas. “Fomos muito recebidos pela escola, não há interferência. E isso criou um espaço nosso, de confiança. Estamos cada vez mais inseridos na Carandá”, completa Mila.
Segundo a diretora Ana Cristina, a troca entre as famílias com filhos de diferentes idades pode criar uma importante rede de apoio entre elas. E criar as crianças em uma comunidade é dar a elas a oportunidade de terem muitos laços. Além disso, a escola pode ser melhor e mais forte quando tem clareza de seu fazer e de seu saber e escuta e compartilha os saberes e fazeres de seus parceiros, sejam eles as famílias, os diferentes grupos de estudantes, outras escolas, nossos funcionários, docentes ou não, etc. “O Cláudio de maneira competente e amorosa, consegue aproximar cada um dos atores deste espetáculo, sem perder o fio da meada e as diferenças que nos definem e nos enriquecem”, afirma.
A criação do samba-enredo – Entre as atividades, a Escola dos Pais participa há três anos da Imaginar-te, feira de artes da Carandá. O samba-enredo surgiu no evento do ano passado, cujo tema era “Eu, tu, voz”. Para estimular conversar, o grupo criou vários “Faladores” e “Escutadores” com garrafas pets e conduítes, que foram espalhados pela Carandá. E batizou a sala que utilizaram de Grêmio União Recreativa Ouvidos Unidos da “Escola dos Pais”, confeccionando um estandarte para identificar o local. Nesse processo, surgiu a ideia do samba-enredo. “Gravei o tema e enviei para uma amiga. Comentei o que tinha feito e o Rodrigo pediu a melodia. Dias depois, devolveu tudo pronto!”
Rodrigo Bocuzzi é engenheiro e contador e adora Carnaval. Buscou colocar na letra o que acontece na Escola dos Pais: os encontros, as brincadeiras, as inquietações e as soluções e, também, as celebrações. “Incluiu também as novas amizades, o espaço de compartilhamento, as trocas com outras pessoas e os caminhos para sermos melhores pais”, diz. Ele e Flávia, sua esposa, tinham ouvido falar da Escola dos Pais em 2017, quando escolhiam a escola da filha. “Fizemos a matrícula da Julia na Carandá e, na sequência, a nossa na Escola dos Pais. As dúvidas dos pais só mudam conforme os filhos crescem, outras visões e outras pessoas expandem as nossas opiniões”, comenta.
Agora, pais e mães estão se preparando para o desfile, que será realizado neste sábado (23/2), das 16h às 19h, começando na unidade da Carandá da rua Diogo de Faria, 386, e terminando na unidade da mesma rua, número 1338. “Com estandarte e samba-enredo, temos uma oportunidade da Escola dos Pais ir para fora da Carandá e ocupar a comunidade”, comenta Mila. “O Carnaval também trata dessa proximidade de pessoas, que se juntam com um objetivo comum: sinergia”, alegra-se Rodrigo.
Confira a letra do samba-enredo
Grêmio União Recreativa Ouvidos Unidos da “Escola dos Pais”
(Pedro Mindlin / Rodrigo Bocuzzi)
“Venha ver, a Escola dos Pais
Desfilar, de Ouvidos Unidos
Pensar, uma incrível jornada a nos aperfeiçoar
Nossa dúvidas e inquietações
Em parceria discutindo as soluções
Nos reunimos pra trocar experiências
Na tutela do “Escuta e Convivência”
Brincadeiras iniciam o contato
Alianças e contratos
Um olhar para a educação!
Angústia se resolve em prática,
Amizade tão empática
Vamos à celebração
O encontro nos transforma, os poderes são reais
Ponderando nossos erros, melhoramos como pais
Amor e acolhimento são os nossos ideais
Festejando a consciência em nossos Carnavais”