fbpx

A Tecnologia da Colaboração

Por Henrique Katahira @henrique.ka, Thianne Martins @thiannemartins e Patrizia Bittencourt @patriziabittenc, da Cuidadoria

O Festival Internacional da Cooperação, o FICOO 2018, de 11 a 14 de outubro, tem um tema inspirador: “A Beleza da Abundância”.

Acreditamos que a beleza da abundância se dá por meio de um fluxo contínuo de recursos e relações de troca que, por sua vez, só é possível por meio da colaboração, palavra que vem do latim colaborare (trabalhar junto). Para que o trabalhar junto ocorra, é preciso que haja conexões, o que vem aumentando exponencialmente nos últimos anos.

A cada dia, milhares de novos computadores, celulares, dispositivos, câmeras e sensores se conectam à Internet. Segundo o site The Statistics Portal, são 23 bilhões de dispositivos conectados à Internet em 2018 e este número chegará a 75 bilhões em 2025.

Imagem: Número de dispositivos conectados na internet de 2015 a 2015. Fonte: Statista – https://www.statista.com/statistics/471264/iot-number-of-connected-devices-worldwide/

Esta hiperconectividade altera os padrões de tudo o que conhecemos, incluindo o nosso comportamento e como nos relacionamos. Isto deixa o mundo mais complexo e fragmentado, ou seja, convivemos com uma diversidade infinita de informações, estruturas e relações que se combinam e se regulam entre si.

Com tantas conexões, a interdependência entre elas aumenta tanto que fica impossível fazer qualquer tipo de previsão com base no passado. Estamos na transição de um mundo previsível, linear, com relações claras de causa e efeito para um mundo imprevisível, exponencial, ambíguo e interdependente.

Esta tecnologia, que permitiu o surgimento de organizações em rede, cria novas e infinitas possibilidades da nossa ação humana. Hoje, é possível agregar milhares de pessoas do mundo todo em torno de uma causa, trocar experiências, compartilhar recursos e colaborar em prol de um propósito comum, muitas vezes sem um centro definido. E isso fez surgir movimentos colaborativos, coletivos, redes, grupos, associações e negócios que usam a força do coletivo e as tecnologias de informação e comunicação para gerar impactos cultural, ambiental e social.

Temos estudado e experienciado movimentos colaborativos e práticas de autogestão e percebemos que, paradoxalmente, a tecnologia mais complexa é o que chamamos de Tecnologia da Colaboração – uma tecnologia social que não depende de conexões elétricas, mas, sim, de relações humanas.

A Tecnologia da Colaboração é um sistema high-touch altamente avançado, fruto de uma evolução de milhões de anos que todo ser humano possui, mas, devido ao condicionamento ao sistema competitivo e baseado no medo e na escassez, acabou se atrofiando. Este sistema reúne três centros de inteligência: corporal, emocional e racional.

Normalmente, damos ênfase somente ao centro racional, mas os centros corporal e emocional funcionam como sensores importantes que não devem passar despercebidos. Ao usar nossos sensores corporal e emocional, conseguimos conhecer nossos limites físicos e emocionais e, também, da pessoa com quem nos relacionamos, respondendo adequadamente aos estímulos externos e à mobilização interna.

Além dos sensores, esta tecnologia conta com várias funcionalidades:

  • Cuidado mútuo
  • Capacidade de escuta, empatia e compaixão
  • Comunicação autêntica
  • Atenção plena
  • Intuição

Para ativar esta tecnologia, temos que nos desapegar de modelos mentais baseados no medo e de condicionamentos de competição, escassez e desconfiança e aprender a abraçar o paradigma da colaboração, abundância e confiança, além de trabalhar o autodesenvolvimento e o autoconhecimento para nos conectarmos com a nossa essência.

Isto nem sempre é fácil, pois gostamos de começar pela parte prática.

Normalmente, quando iniciamos um projeto ou empreendimento colaborativo pensamos no propósito do grupo e vamos direto ao ferramental como um grupo de WhatsApp ou um Trello. Ou, então, em metodologias como Dragon Dreaming, para criar e gerir projetos colaborativos; práticas da Teoria U, para ativar nossa integralidade e a qualidade da presença, entre tantas outras práticas que estamos experimentando e, assim, criamos novas possibilidades e ampliação da nossa ação coletiva. E há aqueles que preferem começar criando papéis e estruturas por meio da Holacracia.

Estas tecnologias podem até funcionar inicialmente, mas não se sustentarão se a Tecnologia da Colaboração não estiver sido bem implementada. Normalmente, questões relacionais são o “calcanhar de Aquiles” das organizações, que acabam minguando por falta de engajamento, energia baixa, conflitos, falta de alinhamento de propósito, etc.

Se sua organização passa por esse tipo de problema, que tal avaliar como está a Tecnologia da Colaboração da sua equipe?

Acreditamos que este salto de complexidade irá empurrar o ser humano a um novo patamar de consciência. Para tanto, precisamos acessar e desenvolver, cada vez mais, as nossas tecnologias humanas, nosso potencial criativo, nossa capacidade de criar conexões verdadeiras com empatia e compaixão, integrando as inteligências racional, emocional, corporal e intuitiva às tecnologias digitais, para navegarmos nesse mundo complexo e, dessa foram co-laborarmos de verdade a serviço do coletivo.