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Soluções colaborativas para organizações em transformação

Por Fábio Otuzi Brotto

Muitos dos desafios enfrentados pelas organizações atualmente, têm a ver com a dificuldade de gestão da cooperação entre suas diversas equipes e pessoas. Nesse sentido, o propósito deste diálogo é compartilhar alguns conhecimentos e experiências para que juntos possamos fortalecer e refinar ainda mais nossa atuação no âmbito da gestão de pessoas com foco na cultura da cooperação nas empresas.

Diferentes estudos nesse campo convergem para a compreensão de que muitos dos fatores que favorecem a colaboração estão ligados ao que chamamos de ambiente da colaboração, ou seja, a cultura – hábitos, atitudes, comportamentos e modos de relacionamento subjacentes da empresa ou equipe. Dentre algumas das descobertas observadas a esse respeito, destacamos que certas equipes tinham uma cultura colaborativa, mas não dominavam a prática da colaboração em si. Tinham incentivos para cooperar, queriam cooperar, mas não sabiam como trabalhar muito bem em equipe3.

Apesar da existência de muitas evidências tanto científicas como empíricas, gestores, executivos, colaboradores, bem como a maioria das pessoas, há muito acreditam que o ser humano está interessado apenas em promover os próprios interesses materiais e não materiais.

Entretanto, estudos recentes em biologia evolutiva, psicologia, sociologia, ciências políticas e economia experimental sugerem que as pessoas agem de modo muito menos egoísta do que a maioria imagina. A biologia evolutiva e a psicologia acharam até evidências neurais – e possivelmente genéticas – de uma predisposição humana a cooperar.

Essas descobertas sugerem que em vez de usar controles, ou incentivos e ameaças, para motivar as pessoas, uma empresa deve criar sistemas que repousem na participação e num senso de propósito comum4.

Contudo, grandes pressões por resultados têm gerado tensões que fazem com que pessoas, equipes e organizações se voltem para seus próprios problemas e busquem atender prioritariamente, seus interesses individuais. Para transcender esse ciclo vicioso é preciso desenvolver um circular virtuoso de compartilhamento, cooperação e bem-estar comum.

As organizações que ficarão conhecidas neste século serão reconhecidas pela inovação eficiente, sustentada, em grande escala. A chave dessa capacidade não é a lealdade à empresa nem a autonomia do agente livre; é sim uma forte comum-unidade colaborativa. Para erguer uma comunidade dessas, a empresa precisa dominar um novo leque de habilidades:

  • Definir e estabelecer um propósito comum.
  • Cultivar a ética da contribuição.
  • Desenvolver processos dimensionáveis para coordenar iniciativas de indivíduos.
  • Criar uma estrutura na qual a colaboração seja valorizada e recompensada5.

Atualmente, diversas organizações no Brasil e no mundo estão mobilizadas para promover o aprimoramento desse “leque” de competências colaborativas visando a realização de uma nova cultura corporativa, conforme a inspiração de Elinor Ostrom, de 76 anos, da Universidade de Indiana, que em 2009, ganhou o Prêmio Nobel Comemorativo de Ciências Econômicas, junto com Oliver E. Williamson. Ostrom foi a primeira pessoa na história a vencer o prêmio com uma teoria comprovada sobre a eficiência das sociedades baseadas no bem comum e como elas funcionam. Sua pesquisa demonstrou que até mesmo em sociedades capitalistas, se forem aplicadas algumas regras simples, uma comunidade com organização própria poderá funcionar. Os indivíduos cooperarão para agir de acordo com o bem comum6.

Acredito que para essa mudança acontecer é importante ajudar a regenerar as relações de aliança e parcerias presentes em todos os nexos das corporações as quais compomos para que então, a partir delas, possamos co-empreender, de fato, o desenvolvimento de Organizações Colaborativas capazes de equacionar sustentável e reciprocamente a necessidade interdependente de produtividade empresarial com felicidade pessoal, e vice-versa.

 

Fábio Otuzi Brotto1 

 

1 – Co-fundador do Projeto Cooperação – Comum-Unidade de Serviço Ltda. (fabiobrotto@projetocooperacao.com.br)

2 – Dee Hock: Fundador e Diretor Executivo Emérito da VISA e autor do livro “Nascimento da Era Caórdica.” Ed. Cultrix, 2000.

3 – Lynda Gratton e Tamara J. Erickson. Harvard Business Review, volume 85, no11. Pág.58-67. Nov. 2007.

4 – Yochai Benkler – Harvard Law School. Harvard Business Review p. 33 – 38. Julho, 2011.

5- Paul Adler, Charles Heckscher e Laurence Prusak. Harvard Business Review p. 51 -57. Julho, 2011.

6- Rachel Botsman e Roo Rogers. O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o seu o nosso mundo. Porto Alegre: Bookman, 2011. (introdução xix)