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Será que a sabedoria do time está sendo desperdiçada? Veja como potencializá-la.

Cambises Bistricky e Carla Albuquerque

“Eles mandam, nós obedecemos.”, “Eu tinha ideias bem melhores q essa.”, “Ninguém me escuta.”, “Acho que isso não vai funcionar!”. Essas afirmações ou lamentações lhe são familiares? Provavelmente você pensou em outras tantas que ouve ou fala.

Essas são falas recorrentes e nos alertam para o que está rolando no time. Ou melhor, nos contam que não está rolando troca, participação e criação a partir dos saberes do time. São afirmações que nos ajudam a perceber que há muito espaço para COMPARTILHAR ideias e COCRIAR soluções.

E quais afirmações ou frase nos indicariam que o time está exercendo seu pleno potencial, usufruindo da sua inteligência coletiva? Algumas possibilidades são “Essa solução só aconteceu por que fizemos juntos e juntas.”, “Já não lembro como começamos ou quem pensou em que, só que o projeto aconteceu.”.

Essas falas, e todas as que você lembrou, nos contam sobre os sentimentos individuais e coletivos do time. As sensações relacionadas a ausência ou presença de escuta, da participação, do uso da sabedoria, da alegria em realizar e pertencer, entre outros. Tudo isso, pode nos levar para a percepção de utilidade e contribuição, sentimento de ser um time e de valorização das pessoas pela organização.

Suponhamos que cada pessoa é um livro, composta de muitos saberes, onde você gostaria de estar: em uma estante conservando seus saberes ou sujeito a intemperes numa mesa com muitos outros livros partilhando e compondo com mais saberes? Então, nos concentrando aqui na sabedoria que pode estar sendo desperdiçada ou potencializada, nosso convite (e também convite do Design Colaborativo) será para explorarmos um pouco mais estes saberes.

Segundo Pierre Lévy:

Inteligência coletiva “é uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”.

Dentre os muitos saberes que esta definição traz, está a consciência de que “ninguém sabe tudo, todos sabem alguma coisa e todo o saber está na humanidade”, como disse o próprio autor. E sendo assim, é nosso desafio comum, reconhecer esses saberes, que para além da educação formal, de cargos ou de posições, consiste na soma de experiências e conhecimentos acumulados e construídos ao longo da vida, mais valiosos e com um sentido mais amplo do que títulos acadêmicos ou rótulos sociais podem conferir. E a nós cabe trazer luz à essa multiplicidade de saberes e então sermos capazes de mobilizá-los pelo bem comum.

Como isso acontece no dia a dia? Acreditamos que reconhecendo a singularidade e potência de cada indivíduo dentro do time, como um quebra-cabeças que só se completa com todas as peças, cada uma com sua contribuição particular e única. Também convidando cada pessoa para COMPARTILHAR com o grupo seus saberes, seja na forma de ideias, objeções, receios, comparações, sonhos ou limitações. Pois, tudo isso junto se completa e permite a cocriação de algo novo, que individualmente não seria pensando, mas que em conjunto nos surpreende.

Só precisamos nos abrir para essa experiência se queremos aproveitá-la. Deixar o “não” dar lugar para o “talvez, que interessante esse olhar diferente do meu” e criar espaço para “Explique melhor a ideia.”, “Como podemos transformar essa ideia numa solução boa para todos?”, “O que precisamos incluir ou modificar para ficar melhor e mais produtivo?”, “Como cada pessoa pode contribuir para isso acontecer?”, etc.

Para ilustrar, trazemos aqui um exemplo da Conceição Souza*, com escolas. “Numa escola pública, a festa junina pode chegar pela diretoria com o objetivo de gerar arrecadação e ser cocriada por times com diferentes visões: a coordenação pedagógica trabalha seus conteúdos – história, cultura, matemática, … artes e expressão corporal; a orientação educacional e psicopedagógica cuida da inclusão dos estudantes; a associação de pais vê a oportunidade de aproximação dos responsáveis; o grêmio vê o engajamento dos estudantes para todas as suas causas. E a festa, é claro, acontece como resultado final. Cada grupo vai se envolver e contribuir com sua visão. O resultado é lindo, mas há todo um percurso, ousado, de construção coletiva. Enfim, um projeto é oportunidade de encontrar objetivos comuns e potencializar a inteligência coletiva.”

*Conceição Souza é colaboradora do Projeto Cooperação, do time da Coordenação Geral da Pós-graduação em Pedagogia da Cooperação e Metodologias Colaborativas. 

Com esse exemplo tão corriqueiro e comum a quem já foi estudante, fica fácil imaginar como fazer com seu time, não? Pensa um pouquinho em quando isso aconteceu e como foi que se deu. Ou como poderia acontecer. Se deixe sonhar um pouco com os olhos abertos, com a consciência ativa, mas sem limites, só com o “poderíamos…”. Esse tempinho certamente ativará seus saberes! Depois, compartilhe com seu time ou alguém dele e pergunte “O que você acha?”, “Como podemos fazer para isso acontecer?”, “O que é preciso para este sonho ser seu também?”… Dê corda para as pessoas se apropriarem e aprimorarem o sonho e perceba como se desperta a criação coletiva,

Para sairmos do desperdício para a potencialização dos saberes coletivos, trazemos também um aprendizado do Projeto Cooperação**. Duas perguntas simples e profundas: o que sabemos e o que não sabemos? COMPARTILHAR aquilo que não sabemos e desejamos descobrir, aprender e construir em conjunto é tão importante quando ter consciência daquilo que sabemos e que, portanto, é nosso ponto de partida para conquistar aquilo que desejamos descobrir. Por isso, nosso Design Colaborativo promove a simbiose do saber e não saber de cada pessoa e do time a fim de construir caminhos e soluções conscientes dos limites, desafios e potencias.
**O Projeto Cooperação dedica-se a desenvolver soluções de Design Colaborativo para organizações, empresas, comunidades e grupos. Suas soluções se baseiam na Pedagogia da Cooperação e diversas metodologias colaborativas.

Um objetivo a ser alcançado – seja ele o atingimento de uma meta, uma solução a ser criada ou um conflito a ser resolvido -, e essas duas perguntas, em um ambiente de livre resposta, valendo tudo que se passa na mente e se permitindo criar novas respostas a partir das já dadas é um terreno fértil para a cocriar novos caminhos, novas soluções.

O caminho coletivo é muito produtivo! Mas nem sempre é estimulado. Numa cultura em que a responsabilidade está concentrada em cargos hierárquicos e ao time cabe executar tudo que foi definido, a inteligência coletiva fica adormecida. Como se não fosse necessária, ou ainda, como se nem ao menos existisse.

Para tornar isso uma prática, estamos convidando para se abrir a uma nova cultura, num processo que demanda firmeza no propósito de integrar a organização. Um processo que se dá por meio DE, PARA e POR PESSOAS (e seus saberes), a ser conduzido com carinho, respeito e verdade.

Pronto para criar coletivamente a partir da consciência dos saberes e não saberes do seu time?

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Por Cambises Bistricky e Carla Albuquerque

Cambises Bistricky é focalizador do Projeto Cooperação e docente da pós-graduação em Pedagogia da Cooperação e Metodologias Colaborativas e co-autor do Livro “Pedagogia da Cooperação, por um mundo onde todas as pessoas possam VenSer”,

Carla Albuquerque é colaboradora do Projeto Cooperação, co-fundadora de Coletivamentes, co-organizadora e co-autora do Livro “Pedagogia da Cooperação, por um mundo onde todas as pessoas possam VenSer”.