Carla Albuquerque
Colaboração é uma palavra cotidiana, que nos remete a algo que sabemos fazer. Mas, se a cultura da colaboração demanda mais do que fazer, SER, será que de fato somos pessoas colaborativas?
Minha primeira resposta é sim e a segunda é depende.
“Sim” porque somos seres colaborativos, fomos criados e vivemos a partir da colaboração celular que acontece dentro do nosso corpo. Também somos seres sociais, com uma interdependência latente a partir do nosso nascimento, na qual a colaboração gera condições para nos alimentarmos e sobrevivermos. E seguimos a vida nos percebendo existir a partir das nossas relações com outras pessoas e o ambiente. Para se aprofundar na nossa natureza colaborativa, recomendo ler Humberto Maturana ou assistir Lia Diskin.
“Depende” por nosso entendimento da colaboração ser restrito. De vir muitas vezes de agir colaborativamente em situações específicas, em contextos escolhidos e com limites bem definidos. Embora nossa essência colaborativa simplesmente aconteça no nosso corpo sem escolha e também por impulso diante de algo inesperado (qual sua reação ao ver uma pessoa cair?), nossa cultura nos ensina a racionalmente escolher por ações e opções mais individualistas, que limitam nosso potencial colaborativo e o impacto no coletivo.
“Não existe vida no isolamento, a vida é um fenômeno que resulta das relações.” Lia Diskin
Esse olhar para a colaboração como uma escolha em momentos específicos, traz consigo uma vivência bastante limitada. Por isso o convite é para nos abrir para SER colaboração. Essa é a virada para uma colaboração orgânica e genuína, em que naturalmente pensamos colaborativamente e isso faz com que nossas ações partam de algo bom para todas as pessoas envolvidas.
Temos hoje muitas metodologias colaborativas incríveis que nos convidam a experimentar a colaboração intencional. Dragon Dreaming e Design Thinking para desenvolver projetos; Investigação Apreciativa, World Café e Open Space para identificar potências e gerar soluções; Mediação, Resolução de Conflitos e Comunicação Não Violenta, para promover diálogos. Mas se as tratamos como ferramentas, como algo que usaremos num determinado momento para fazer alguma coisa específica, já impomos limitações.
Quando estudava comunicação não-violenta, ouvi que não era uma ferramenta, mas sim uma visão de mundo, um jeito de estar e se relacionar com as pessoas. Essa é a aposta. Enquanto pensarmos em colaboração como algo pontual, vamos colaborar parcialmente. A colaboração parte de nós e se aplica a tudo em todos os momentos. Mas só despertando para isso conseguiremos vivê-la com plenitude e descobrir níveis de colaboração que até então nem imaginávamos que existir.
A Pedagogia da Cooperação me trouxe uma percepção bem mais concreta dessa limitação e de como podemos superá-la. Ela nos faz um convite explícito para SER colaboração. Começa não se apresentando como uma ferramenta, mas como uma abordagem, uma solução mais abrangente que nos conduz a praticar a colaboração numa sequência de ações que ativam e desenvolvem habilidades cognitivas e socioemocionais (hard e soft skills) fundamentais para ressignificar a colaboração. É um design colaborativo que provê soluções para questões práticas da organização, comunidade ou grupo, mas que tem como resultado mais precioso do processo a transformação de quem o está vivenciando. Ao final, cada pessoa tem o entendimento da colaboração como uma visão de mundo, uma opção de viver que investe em relações de apoio mútuo e propósitos comuns, que gera bem-estar individual e coletivo.
Assim, temos um caminho para a colaboração como cultura, que acontece de forma orgânica e genuína nas múltiplas relações e ambientes que frequentamos. Você saberá que atingiu esse nível de colaboração quando perceber que sua primeira opção de ação, reação, decisão ou solução, em diferentes contextos, é naturalmente colaborativa.
Conheça a Pedagogia da Cooperação, a pós-graduação que te levará a construir relações e ambientes colaborativos e soluções colaborativas para sua organização.
Por Carla Albuquerque
Carla Albuquerque é colaboradora do Projeto Cooperação, co-fundadora de Coletivamentes, co-organizadora e co-autora do Livro “Pedagogia da Cooperação, por um mundo onde todas as pessoas possam VenSer“.